DOCUMENTO DA ASSEMBLEIA DOS POVOS INDÍGENAS DE TOCANTINS
Aldeia Prata, T.I. Apinajé sexta-feira, 18 de outubro de
2025
POVOS INDÍGENAS;
Apinajé
Krahô
Xerente
Krahô-Kanela
Krahô-Takaywrá
Canela do Tocantins
DOCUMENTO DA ASSEMBLEIA DOS POVOS INDÍGENAS DE TOCANTINS
Aldeia Prata, T.I. Apinajé sexta-feira, 18 de outubro de
2025
POVOS INDÍGENAS;
Apinajé
Krahô
Xerente
Krahô-Kanela
Krahô-Takaywrá
Canela do Tocantins
Inspirados e inspiradas pela
coragem e ousadia daqueles e daquelas que nos antecederam e pela força
ancestral que resiste em nossos territórios, nós, povos Apinajé, Krahô,
Xerente, comunidades quilombolas, quebradeiras de coco babaçu, agricultores e
agricultoras familiares, camponeses e camponesas, assentados da reforma
agrária, pescadores e pescadoras artesanais, juventudes, movimentos sociais,
pastorais, sindicatos, pesquisadores, professoras e professores, entidades de
apoio e coletivos diversos, reunidos no Seminário Tocantins na Encruzilhada:
combate ao desmatamento e análise crítica ao REED+ Jurisdicional, realizado nos
dias 25 e 26 de setembro de 2025, em Palmas (TO), tornamos público este grito
coletivo de denúncia e de socorro.
Nosso encontro ecoa diante da
escolha do Estado brasileiro de transformar o Cerrado em bioma de sacrifício,
um território destinado à devastação para alimentar a máquina do agronegócio e
da financeirização da natureza. Essa lógica expulsa povos e comunidades de seus
lugares de vida, destrói as águas, as florestas e os modos de existência e
ameaça a própria continuidade da vida no planeta.
Este documento nasce como voz
insurgente diante do desmatamento acelerado, da grilagem institucionalizada, da
violência crescente no campo e da tentativa de transformar nossas florestas,
rios e territórios, - e até o gás carbônico que evitamos que seja lançado na
atmosfera - em mercadorias. Ele expressa nossa indignação, nossa denúncia e,
sobretudo, nossos compromissos de luta pela vida e pela preservação do Cerrado,
coração das águas do Brasil e morada de nossos povos.
Denunciamos
A expansão acelerada do
desmatamento no Tocantins e no MATOPIBA, intensificado pela expansão
desordenada da fronteira agrícola.
O avanço do desmatamento do
Tocantins, em especial nas unidades de conservação como a APA Cantão/Ilha do
Bananal. Dados revelam que o desmatamento na APA foi maior proporcionalmente do
que no restante do Estado do Tocantins, e intensificado de 2012 em diante.
Persistem práticas de emissão de
autorizações de supressão de vegetação (ASVs)/AEFs e cobertura nativa, muitas
vezes ilegais, conforme apontado no relatório lançado durante o Seminário.
A grilagem e a legalização de
terras públicas, expressa na Lei Estadual nº 3.525/2019 e em novos projetos que
buscam transferir terras da União para o Estado, abrindo caminho para a
concentração fundiária e a exclusão dos povos do campo.
A ausência de transparência dos
órgãos de fiscalização, em especial do Naturatins, sem validação das
informações do CAR referentes às Reservas Legais, APPs e áreas de sobreposição
com as APAS e demais UC e territórios PCTs.
A expansão da soja e da pecuária
extensiva como vetores estruturais da destruição, contaminando águas e solos
com agrotóxicos, expulsando comunidades tradicionais, povos originários e os
povos do campo, inviabilizando a produção da agricultura familiar e afetando a
saúde das populações.
O avanço da insegurança hídrica
no Tocantins. Observa-se a ausência de gestão realmente participativa da gestão
das águas nos territórios, com a concessão de autorizações e outorgas de
captação, represamento da água por grandes empreendimentos sem avaliação de
impacto, muito menos consultas prévias, livres e informadas para as demais
comunidades e territórios que serão atingidos.
A violação ao direito à consulta
livre, prévia e informada das comunidades. Seja nos procedimentos de
licenciamento ambiental, autorizações de supressão de vegetação, processos
administrativos minerários.
O avanço da mineração e de
megaprojetos de infraestrutura que agravam os impactos sociais, territoriais e
ambientais sobre os territórios.
O aumento da violência policial e
da criminalização das comunidades e dos movimentos sociais.
A violência contra comunidades
rurais e povos tradicionais, marcada por despejos extrajudiciais, repressão
policial e ameaças constantes a defensores de direitos humanos.
A falta de transparência quanto
às informações das terras públicas estaduais, sobretudo relacionadas às
destinações realizadas pelo Intertins.
A ausência de políticas de
regularização fundiária e de proteção efetiva de territórios indígenas,
quilombolas e povos do campo.
O esvaziamento institucional e o
desprezo pelas pautas de Direitos Humanos por meio do boicote aos espaços de
participação social, como as conferências.
O assédio às comunidades e a
erosão dos modos de vida sob a promessa de renda que desestrutura a autonomia.
A hegemonia da narrativa
pró-agronegócio na mídia (“o agro é pop”) e a disputa simbólica na sociedade
onde há uma subalternização das pautas socioambientais.
A ameaça da financeirização da
natureza via REED+ jurisdicional e a mercantilização da natureza.
O modelo de REDD+ Jurisdicional,
em debate no Tocantins, não enfrenta as causas estruturais do desmatamento,
abrindo espaço para a mercantilização da natureza, a violação de direitos e a
exclusão das comunidades que historicamente protegem os territórios.
O REDD+ Jurisdicional do
Tocantins não obedece os direitos assegurados pela Convenção 169 da OIT, uma
vez que não houve consulta prévia, livre e informada. Não foi realizada de
forma prévia, uma vez que as negociações sobre o REDD+ iniciaram sem a consulta
aos pcts, a venda dos créditos de carbono já começou a ser realizada, inclusive
sem a autorização da Assembleia Legislativa e a empresa certificadora e sua
metodologia de mensuração já estão definidos. Somente em 2025, documentos foram
liberados à ATA e somam muitas páginas, impedindo uma compreensão realmente
informada para uma decisão livre.
O REDD+ Jurisdicional ignora os
direitos territoriais dos PCTs, que estão sendo sistematicamente desrespeitados
pelo Estado do Tocantins.
Diante deste cenário,
afirmamos o nosso compromisso coletivo com:
A defesa do direito à terra e ao
território como condição central para combater o desmatamento e garantir a
soberania.
A afirmação de que não há justiça
climática sem justiça fundiária.
O reconhecimento dos povos
indígenas, quilombolas, camponeses, quebradeiras de coco e comunidades
tradicionais como guardiões e guardiãs do Cerrado e parte da solução da crise
climática. O Cerrado não será o bioma do sacrifício!
O fortalecimento das redes de
incidência política, a articulação dos planos estaduais de agroecologia e a
ampliação de práticas agroecológicas como alternativas reais ao agronegócio.
O fortalecimento da juventude,
das mulheres e da ancestralidade como pilares da luta.
Nos comprometemos, a partir
desse Seminário, com os seguintes encaminhamentos:
Suspender a implementação do
REED+ jurisdicional até que haja consulta livre, prévia e informada, e revisão
crítica das salvaguardas.
Revogar leis inconstitucionais de
grilagem (Lei 3.525/2019) e bloquear novos PLs que transfiram terras da União
para os estados.
Revogar normas pró-grilagem e
resistência a PLs federais que afrouxam o controle.
Transparência fundiária plena por
meio da criação de uma plataforma pública de dados (situação dominial,
processos, sobreposições, etc) para controle social.
Regularização fundiária,
reconhecimento e titulação de territórios tradicionais, medida essencial para a
proteção dos modos de vida e para a garantia de direitos.
Apoio à minuta de Decreto já
apresentada ao Governo Federal, que trata da regularização fundiária dos
territórios tradicionais, como ação urgente contra a grilagem e a violência no
campo.
Apoio a criação de um zoneamento
agroecológico e zonas de exclusão/limitação para a mineração e o agronegócio.
Criação de observatório.
Garantir a transparência e
controle social sobre as Autorizações de Supressão de Vegetação (ASVs),
conforme determinações do STF nas ADPFs 743 e 760.
Fiscalização efetiva e
responsabilização dos agentes do desmatamento ilegal, assegurando que a lei
seja aplicada sem seletividade.
Fortalecimento da agricultura
familiar e camponesa, da agroecologia e das práticas sustentáveis como pilares
do desenvolvimento socioambiental do estado.
Criar e implementar um Plano Estadual de Agroecologia e Produção Orgânica, com recursos garantidos e participação social, integrando assistência técnica, compras públicas, cadeias de valor agroextrativistas e educação do campo.
Apoiar políticas públicas estruturantes: assistência técnica, educação do campo, saúde, fortalecimento de cadeia agroextrativistas.
Fortalecimento da agricultura familiar e camponesa, da
agroecologia e das práticas sustentáveis como pilares do desenvolvimento
socioambiental do estado. Nossos territórios, práticas agroecológicas e
conhecimentos tradicionais representam alternativas reais ao modelo predatório
do agronegócio e devem ser reconhecidos e fortalecidos.
Garantir a participação efetiva
das comunidades em processos de licenciamento ambiental e decisões que impactam
os territórios.
Fortalecimento e criação de
instâncias de participação social como os conselhos, as conferências, o fórum
de participação social, as associações nos territórios.
Garantir conferências e processos
participativos reais com convocação adequada, garantia da logística e
mobilização territorial.
Campanha de comunicação para
“reflorestar mentes” e disputar a narrativa com conteúdos acessíveis, formação
política e alianças no âmbito dos três poderes nos três níveis.
Fortalecer a construção dos
protocolos comunitários de consulta e organização em rede para o enfrentamento
direto às denúncias aqui apresentadas.
Implementação de um mecanismo de
vigilância em saúde para os impactos relacionados ao uso de agrotóxicos e às
atividades minerárias com atenção especial aos territórios afetados.
Fortalecer e reestruturar o
Incra, Funai, Ibama, ICMBio, Prevfogo, Naturatins com concursos, capacitação e
orçamento.
Assistência técnica e extensão
rural contínua a assentados e agricultores familiares para reduzir a
vulnerabilidade ao arrendamento e a dependência de agrotóxicos.
Monitoramento e pressão sobre as
decisões do STF e cobrança de cumprimento pelo estado.
Popularizar ferramentas de
denúncia e rastreabilidade, fomentando boicotes, pressão econômica e devida
diligência de empresas.
Chamamento ao Poder Público
O Tocantins está em uma
encruzilhada histórica: aprofundar a destruição de seus ecossistemas ou
construir um futuro de justiça socioambiental, baseado na democracia, na
valorização da diversidade cultural e na defesa da vida.
Conclamamos o Governo do Estado,
a Assembleia Legislativa e demais instituições públicas a se posicionarem de
forma clara contra o desmatamento e em favor dos povos do campo, da floresta e
das águas. O futuro do Tocantins depende de escolhas firmes e justas hoje.
Não aceitaremos retrocessos nem
falsas soluções!
Não há justiça climática sem
justiça fundiária: a defesa da terra e do território é condição central para
enfrentar o desmatamento e garantir soberania e segurança alimentar.
Assinam:
Coalizão Vozes Do Tocantins Por
Justiça Climática
Instituto Sociedade População e
Natureza – ISPN
Tamo De Olho
Núcleo Universidade De Brasília –
UnB
Movimento Dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra – MST
Alternativas Para A Pequena
Agricultura No Tocantins - APA-TO
Articulação Tocantinense De
Agroecologia – ATA
Coordenação Estadual Das
Comunidades Quilombolas Do Tocantins – COEQTO
Grupo De Trabalho Amazônico – GTA
Associação De Mulheres
Agroextrativistas da APA Cantão - AMA Cantão
Associação Indígena Apinajé -
Pyka Mex
Curso De Direito UFT/Arraias
Núcleo De Estudos Em Agroecologia
e Desenvolvimento Sustentável - NEADS/UFT
Associação De Apoio Às Unidades
De Conservação Onça D’água
Associação Indígena Mē Hempej Xà
Associação União Das Aldeias
Apinajé PEMPXÀ
Associação Das Mulheres Xerente
Observatório De Conflitos
Socioambientais do MATOPIBA
Instituto Terra, Direitos e
Cidadania
Associação Comunitária dos
Artesãos e Pequenos Produtores de Mateiros - ACAPPM
Carta das Mulheres Indígenas do Cerrado — Por
território, água e vida
Nós, mulheres indígenas do Cerrado - Apinajé,
Apãnjekrá Kanela, Baikairi, Bororo, Gavião Pycopcatiji, Guajajara, Guarani
Kaiowá, Javaé, Karajá, Kariri, Kaxixo, Kinikinau, Krahô, Krenje, Krepymcateje,
Krikati, Memortumré Kanela, Paresi, Tabajara, Terena, Tuxá, Wapichana,
Xakriabá, Xavante, Xerente e Xukuru - nos reunimos em Brasília (DF), no I
Encontro das Mulheres Indígenas do Cerrado, junto com o XI Encontro e Feira dos
Povos do Cerrado, para somar vozes e anunciar caminhos em defesa dos nossos
direitos e da proteção do Cerrado. Articuladas no âmbito da Mobilização dos
Povos Indígenas do Cerrado (MOPIC), reafirmamos nosso protagonismo e a unidade
entre povos, gerações e territórios.
O Cerrado abriga pelo menos 179 Terras Indígenas no
bioma e em suas bordas (áreas de transição), de 62 povos em 10 estados. São
cerca de 20,7 milhões de hectares e mais de 200 mil pessoas. Muitos desses
territórios estão em diferentes etapas de regularização, com processos que
precisam ser finalizados e garantidos para nossos povos. E nessa conta não
estão as inúmeras reivindicações por Terras Indígenas ainda não reconhecidas
pelo Estado brasileiro no Cerrado.
Somos guardiãs de uma biodiversidade única. O Cerrado
junta veredas, campos e matas que abrigam milhares de espécies e alimentos que
sustentam nossas famílias e economias. Também é o coração das águas: nascentes
e brejos que alimentam as grandes bacias do São Francisco, Tocantins-Araguaia,
Paraná-Paraguai e Parnaíba e recarregam os lençóis de água. Com as mudanças
climáticas, as secas ficam mais longas, o calor mais forte, a chuva mais
irregular e as queimadas mais intensas. Quando há desmatamento e veneno, as
nascentes adoecem, as veredas baixam e a sede aumenta. Cuidar da biodiversidade
e das águas do Cerrado ajuda a enfrentar a crise do clima: nossos territórios,
com raízes profundas e nosso jeito tradicional de cuidar do fogo, refrescam o
ambiente, mantêm a umidade e ajudam a estabilizar as chuvas. Defender o Cerrado
é defender o clima e a vida de todo o Brasil.
As mulheres estão na linha de frente do cuidado com o
Cerrado. Somos guardiãs de sementes e nascentes, cuidamos de roças e quintais,
mantemos viveiros, fazemos manejo do fogo com sabedoria, acompanhamos a
qualidade da água, ensinamos nas escolas e transmitimos conhecimentos. Quando
uma mulher é atacada, todo o território sofre: a violência nos afasta dos
espaços de decisão, rompe redes de cuidado, desorganiza economias e silencia
saberes. Nesse contexto, nossa solidariedade ao povo Javaé pelo recente feminicídio
de uma jovem indígena. Não à violência! Proteger as mulheres é proteger o
Cerrado.
Durante o Encontro organizamos nossa discussão em seis
eixos temáticos - Saúde, Educação, Cultura, Enfrentamento à Violência Contra as
Mulheres, Território e Economias Indígenas e Sustentabilidade - e, com base nos trabalhos de grupo,
sistematizamos desafios e fortalezas comuns. Como desafios identificamos: a
necessidade de demarcação e a proteção territorial; a educação desvalorizada e
o risco às línguas indígenas; a saúde marcada pela falta de assistência e por
impactos diversos; a violência contra as mulheres; a presença de álcool e
drogas nos territórios e seus efeitos sociais; o uso de agrotóxicos e o avanço
da mineração e do agronegócio; a criminalização de lideranças indígenas; os
efeitos das mudanças climáticas sobre costumes e alimentação; e o suicídio
entre jovens. Ao mesmo tempo, sustentam nossa resistência: a cultura e os
saberes tradicionais; a organização de mulheres e o protagonismo feminino; a
produção de alimentos, a agroecologia, a agricultura familiar e as ações de
restauração; a organização comunitária, as associações e uma base social forte;
a defesa ambiental e a proteção do Cerrado; a educação e a saúde diferenciadas;
e a espiritualidade e a força da natureza que nos orientam.
Diante desse quadro, reivindicamos:
1 - Demarcação já e proteção efetiva de todas as
Terras Indígenas do Cerrado, com ações imediatas contra invasões, desmatamento,
grilagem, garimpo e violência.
2 – O fortalecimento da política de saúde indígena, com recorte de gênero, garantindo parteiras,
benzedeiras, pajés e medicinas indígenas; equipes permanentes com formação
intercultural; atenção à saúde mental e às violências.
3 – O fortalecimento da educação escolar indígena
diferenciada, com autonomia pedagógica, valorização e estabilidade de
professoras e professores indígenas, garantia das línguas e de currículos
próprios.
4 - Enfrentamento à violência contra as mulheres
indígenas, com protocolos comunitários, acesso à justiça e políticas de
prevenção construídas com nossas lideranças.
5 - Economias indígenas e sustentabilidade:
fortalecimento de roças, quintais, sementes crioulas, artesanatos, outras iniciativas
produtivas e de restauração lideradas por mulheres.
7 -
Reconhecimento e implementação de PGTAs, protocolos de consulta e brigadas
indígenas com recursos e participação plena das mulheres.
8 - Políticas específicas para aldeias urbanas,
garantindo território, água, educação, saúde e proteção social diante da
expansão das cidades sobre nossas comunidades.
9 - Cerrado Vivo já: desmatamento zero no bioma; proteção e restauração
de veredas, nascentes e matas de galeria; reconhecimento e financiamento do
manejo tradicional do fogo; e regras firmes para captação de água e uso de
agrotóxicos nas bacias que nascem no Cerrado, com participação deliberativa das
mulheres indígenas.
10 - Adaptação climática no Cerrado com protagonismo
indígena: elaboração de planos de adaptação comunitários por território/região;
sistemas de alerta e brigadas permanentes; proteção de nascentes e recuperação
de veredas; fortalecimento de roças e viveiros com espécies nativas resistentes
à seca e bancos de sementes; e acesso direto a financiamento climático para
iniciativas lideradas por mulheres indígenas.
Nós, mulheres indígenas do Cerrado, afirmamos: cuidar
do Cerrado é cuidar do Brasil. Onde uma mulher indígena está, a água resiste, a
mata respira e o futuro se levanta. Exigimos que o Estado cumpra seu dever
constitucional; que os órgãos competentes atuem com urgência e respeito aos
nossos modos de vida; que a sociedade reconheça o Cerrado como coração das
águas e casa de muitos povos. Seguiremos juntas e em movimento, com nossos
cantos, nossas línguas e nossas sementes, por território, água e vida - agora e
para as futuras gerações.
Esta carta integra a plataforma política das mulheres
indígenas do Cerrado no âmbito da MOPIC - Mobilização dos Povos Indígenas do
Cerrado.
Brasília – DF, 12 de setembro de 2025
Associação União das Aldeias Apinajé_PEMPXÀ
Nós caciques, lideranças, mulheres, Professores, mães, Estudantes e demais membros das Organizações e do Conselho Local de Saúde Apinajé, viemos à público manifestar nosso repúdio, indignação e descontentamento com as condições do atendimento à saúde indígena e a atual gestão do Distrito Sanitário Especial Indígena do Tocantins - DSEI-TO, da Secretaria Especial de Saúde Indígena - SESAI e do Polo Base Indígena-PBI de Tocantinópolis, nos seguintes termos; neste momento estamos sofrendo com grave crise de deficiência de atendimento à saúde e nossas familiares e pacientes estamos passando por muitos transtornos e dificuldades. E nesse contexto de insegurança e incertezas viemos pedir socorro ao governo, às autoridades à sociedade para juntos buscarmos melhorar e evitar mais perdas de vidas de nossos parentes e familiares. A situação da saúde que já vinha ruim, se agravou do mês de outubro de 2024 e até agora pouca coisa melhorou, apesar de vários documentos encaminhados aos órgãos competentes e denúncias feitas por meio das Reportagens veiculadas na imprensa local, regional e nacional mostrando as condições estruturais dos Postos de Saúde, da falta de medicamentos, da deficiência do transporte, das dificuldades para se conseguir exames ou consultas, do descaso e negligência dos servidores e profissionais da saúde responsáveis pela atenção à saúde nas aldeias Apinajé. Mesmo assim alguns servidores do PBI de Tocantinópolis ainda insistem em negar o óbvio e tentam de todas as formas deslegitimar e desqualificar as lideranças afirmando que nossas denúncias “não procedem” e que não são “verdadeiras”. Ora, as denúncias são das lideranças, dos conselheiros (as) de saúde e dos familiares que seguem na linha de frente acompanhando pacientes nas aldeias, na Unidade de Pronto Atendimento-UPA (Tocantinópolis), no Hospital Municipal José Sabóia, (Tocantinópolis), no Hospital Regional de Augustinópolis, nos Hospitais da cidade de Araguaína. Temos observado que pessoas estão morrendo de doenças de fácil prevenção e tratamento, e que poderiam ser evitadas se fossem adotadas medidas antecipadas de diagnósticos, consultas e exames Médicos. Muitas vezes os pacientes passando mal são levados à Unidade de Pronto Atendimento-UPA de Tocantinópolis sentindo alguma doença, chegando lá o médico atende, só olha, passa um remédio (paliativo) e manda a pessoa de volta para casa; não é feito nenhum diagnóstico ou exame naquele paciente. Nesse período de mudança de estação, (entre abril e junho) observamos que muitas crianças pequenas com viroses e doenças respiratórias encaminhadas à Unidade de Pronto Atendimento-UPA de Tocantinópolis, são atendidas tomam algum medicamento e são devolvidas para casa, e três dias depois acabam retornando com pneumonia em situação avançada. Isso é uma falha grave, porque não encaminhar logo a criança para um exame e tratamento. Verificamos ainda que algumas gestantes reclamam que nunca fizeram exames normais de ultrassom ou pré-natal. Entretanto alguns funcionários e servidores do PBI de Tocantinópolis tendem a desacreditar as lideranças e familiares dos pacientes afirmando que tais informações não são “legítimas”, abrindo assim uma discussão desnecessária e desgastante para todos. Temos recebido muitas denúncias de pacientes e seus familiares reclamando que teriam sido maltratados por funcionários; especialmente idosos e mulheres que tem dificuldades de falar e entender a língua portuguesa. Esses casos precisam ser investigados e esclarecidos, pois caracteriza racismo institucional e preconceito, num espaço público onde os cidadãos deveriam ser acolhidos e tratados com dignidade, respeito e humanidade. Desde que a situação se agravou que procuramos debater e buscamos solucionar esses problemas. Durante Assembleia de caciques, conselheiros de saúde e lideranças realizada nos dias 12, 13 e 14 de março de 2025 na aldeia São José, os caciques encaminharam Documentos denunciando as condições precárias, o abandono e o sucateamento estrutural dos equipamentos da saúde indígena em Tocantinópolis e notificaram o MPF-TO solicitando a realização de Audiência Pública para tratativas sobre a saúde dos Apinajé. Após Reuniões realizadas no início de 2025 pela Presidenta do Conselho Local de Saúde, foram encaminhados Documentos ao CONDISI-TO e ao DSEI-TO, denunciando essa situação. E no dia 16 de abril de 2025 foi realizada Reunião convocada pelo CONDISI-TO na Câmara dos Vereadores de Tocantinópolis (TO), a referida Reunião terminou sem respostas às reivindicações dos conselheiros e dos caciques Apinajé. Nessa Reunião do Conselho de Saúde realizada pelo CONDISI-TO, apenas ficou escancarada a desfaçatez, a falta de respeito e a desonra de alguns servidores do PBI e do DSEI-TO com a saúde e a dignidade dos pacientes Apinajé. Assim a notícia dessa crise instalada na saúde indígena em Tocantinópolis, se espalhou e chegou ao conhecimento de outras autoridades, e no mês de maio de 2025 integrantes da Defensoria Pública Estadual-DPE de Tocantins estiveram visitando algumas comunidades na região da aldeia São José, onde ouviram depoimentos de lideranças e familiares de pessoas falecidas recentemente no contexto dessa anormalidade na saúde. A defensora pública Dra. LETÍCIA AMORIM ainda visitou e inspecionou as instalações da Unidade Básica de Saúde-UBS da aldeia Mariazinha, do Posto de Saúde da aldeia São José, da Unidade de Pronto Atendimento-UPA de Tocantinópolis, do Hospital Municipal José Sabóia, da Farmácia Municipal de Tocantinópolis, na ocasião os Defensores Públicos constataram o que já estava sendo denunciado pelas lideranças; inúmeros problemas estruturais e o sucateamento dos equipamentos de saúde nos locais onde visitaram. A situação foi notícia em Reportagem no Jornal Nacional da TV Globo no dia 02 de maio de 2025. A Dra. LETÍCIA AMORIM disse que em breve irá fazer visitas e inspeções também no Hospital Regional de Augustinópolis para onde são removidos e internados muitos pacientes Apinajé. Atendendo solicitação dos caciques o Ministério Público Federal MPF-TO, representado pelo Procurador Dr. ÁLVARO LUTUFO MANZANO realizou Audiência Pública em Tocantinópolis (TO) nos dias 21 e 22 de maio de 2025, com as presenças de servidores do DSEI-TO, do CONDISI-TO, do PBI de Tocantinópolis, do Hospital Municipal José Sabóia, da FUNAI de Tocantinópolis, do Hospital Regional de Augustinópolis, dos conselheiros de saúde e lideranças indígenas, a discussão aconteceu, no entanto a situação ficou na mesma, porque a principal reivindicação dos caciques e conselheiros de saúde foi ignorada e não atendida. O Procurador deu o prazo de 90 dias para os gestores solucionar os problemas em questão, isso significa que durante 3 meses os pacientes em situação de riscos poderão morrer sem tratamento e as famílias sequer serem informadas da causa. Nos últimos dois meses a liderança MARLUCIA RIBEIRO APINAJÉ, presidenta do Conselho Local de Saúde, identificou algumas pacientes em situação gravíssima de saúde que não estão recebendo nenhuma atenção das Técnicas, Enfermeiras ou Médicos da Equipe Multidisciplinar do PBI de Tocantinópolis; o fato é que existe um histórico de pacientes abandonados e negligenciados pelo poder público. Informações repassadas à Presidenta do Conselho Local de Saúde por familiares das pacientes ADALGISA ANCELMO RIBEIRO APINAJÉ, de 27 anos e sua filha ESMERALDA ANCELMO RIBEIRO APINAJÉ de 14 anos, que moram na região da aldeia Mariazinha, esclarece que as duas mulheres estão sofrendo de doença que paralisa as pernas, as referidas pessoas se queixam de dificuldades para se locomover, e reclamam de falta de medicamentos e tratamento Médico especializado; não descobriram ainda a doença. Esse pode ser considerado uma amostra da situação que se encontram alguns pacientes em outras aldeias; sofrendo sem nenhum acompanhamento Médico. Existem algumas situações de descaso com a saúde de pacientes, especialmente mulheres em idade avançada; exemplo o caso da senhora LUZIMAR CORREDOR LARANJA de 60 anos, que mora na aldeia Caetano. Informações de familiares da idosa afirmam que ela (mesmo em idade avançada) sofre de mioma uterino e apresenta sérias complicações de sangramento por longos períodos. Outro exemplo é o caso do LEONARDO ALMEIDA RIBEIRO de 52 anos, morador na aldeia Caatinga, há quase um ano o homem apresentou doença na garganta, que resultou em alterações no tom da voz e em determinado período o paciente quase perdeu a fala. Nesses dois casos os funcionários Técnicos e Enfermeiros (as) do PBI de Tocantinópolis já foram devidamente informados, mas não tomam nenhuma providência. Ainda existe denúncia gravíssima que envolve o nome da Técnica de Enfermagem ANNE CONDE que atua na UBS da aldeia Mariazinha, segundo informações da própria paciente, a referida servidora a teria negado um medicamento alegando que ela não mora na aldeia Mariazinha. E em outra ocasião essa mesma Técnica de Enfermagem teria lhe maltratado e machucado seu braço no momento de medir a pressão arterial. Desde que a situação da saúde piorou, estamos recebendo muitas queixas, denúncias e reclamações de pacientes e seus familiares sobre a atuação da chefe (RT) do PBI de Tocantinópolis, a Sra. LILIAN PINHO DA SILVA, essa funcionária vem sendo acusada de má gestão, descaso, de fomentar intrigas internas e ameaçar processos judiciais contra lideranças. Diante dessas denúncias pedimos que essas acusações sejam apuradas e esclarecidas; é inaceitável que funcionários (as) da saúde, estejam confrontando, maltratando e humilhando pacientes no momento que estão buscando informações ou atendimento de saúde. Nossa recomendação é que qualquer servidor envolvido em denúncias dessa natureza seja afastado das funções até que a situação seja investigada e elucidada. Enfim, é necessário que todos (as) servidores públicos se atenham à suas funções evitando envolvimentos em questões internas das comunidades indígenas. Que o diálogo, o respeito e as boas relações institucionais sejam mantidos e preservados, visando a boa gestão da estrutura operacional de Atenção Básica à Saúde; sem prejuízos aos indivíduos e à coletividade Apinajé. Informamos que o presidente do CONDISI-TO, Sr. IVAN SUZAWRE XERENTE, o Coordenador do DSEI-TO Sr. HARATUMÃ WARASSI MAURRERI JAVAÉ e o Sr. Procurador da República do MPF-TO, em Palmas, Dr. ÁLVARO LUTUFO MANZANO já foram devidamente informados dessa situação e nada fizeram para resolver o problema. Diante dos fatos expostos pedimos à Sra. Chefe da 6ª Câmara de Coordenação e Revisão da PGR, Dra. ELIANA PERES TORELLY DE CARVALHO que adote medidas cabíveis para apuração dessas denúncias, buscando a efetiva melhora do serviço público de saúde nas aldeias Apinajé.
Território Apinajé, sexta-feira 06 de junho de 2025
Associação União das Aldeias Apinajé-PEMPXÀ
Esse vídeo resume parte da história recente do povo Apinajé. Em dezembro de 2007, após conflito violento ocorrido na aldeia Buriti Comprido, famílias das aldeias Cocalinho, Buriti Comprido, Palmeiras e Patizal por medidas de segurança foram removidas pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas-FUNAI para região da aldeia São José, no município de Tocantinópolis (TO). Um ano após o conflito, as famílias das aldeias Patizal e Palmeiras voltaram para suas casas. E somente em julho de 2015, algumas famílias da região da aldeia São José, decidiram fazer roças na aldeia Cocalinho e em dezembro de 2017, fizeram as casas no local aonde permanecem até hoje. A aldeia Cocalinho segue crescendo. No período de dez anos outras três aldeias foram fundadas nessa região; Mata Verde e Canto dos Morros no município de São Bento do Tocantins (TO) e Caatinga no município de Cachoeirinha (TO). Enquanto a aldeia Buriti Comprido continua desabitada.
Terra Indígena Apinajé, 25 de abril de 2025
Associação União das Aldeias Apinajé-PEMPXÀ
Encontro nacional de lideranças no tekoha Ita’y, na TI Panambi – Lagoa Rica, entre os dias 18 e 20 de março de 2025. Foto: Tiago Miotto/CIMI

Leia a carta abaixo na íntegra ou clique aqui para baixá-la em pdf:
CARTA DE COMPROMISSO DO ENCONTRO NACIONAL DOS POVOS INDÍGENAS NO MATO GROSSO DO SUL
Aldeia Itay, Território de Panambi Lagoa Rica,
Mato Grosso do Sul, 20/03/2025
No dia 18 de março de 2025, os primeiros raios de sol coloriram o horizonte Sagrado do Território Kaiowa e Guarani de Panambi Lagoa Rica, no Mato Grosso do Sul, a figura de uma grande Casa de Reza foi iluminada. Junto a ela, em Luta, em Reza e em Canto Sagrado nós assumimos o grande pacto e compromisso de avançar na demarcação de nossas Terras e afastar os perigos e armadilhas das tentativas de negociação/conciliação de nossos direitos por parte do Governo e do Estado Brasileiro.
Nós hoje, somos um.
Entre os dias 18 e 20 de março de 2025, estivemos enquanto lideranças de mais de 24 povos de todas as regiões do Brasil, sendo: Kaiowa, Nhandeva, Avá Guarani, Munduruku, Arapiun, Gavião, Kaingang, Pataxó, Guarasugne, Karitiana, Oro Nao, Kreniê, Xerente, Xucuru Kariri, Kariú Kariri, Apãnjekra Kanela, Karaxuwanassu, Chiquitano, Nukini, Maraguá, Mura, Pankararé e Apinajé. Participando um Encontro de Lideranças e somando na luta com os parentes Guarani e Kaiowá.
Muitos de nós viemos de aldeias e territórios distantes. Vencemos estradas, atravessamos quilômetros, cruzamos rodovias e rios, trazendo na bagagens solidariedade e vontade de lutar.
Encontramos entre os Kaiowa e Guarani povos valentes, herdeiros de uma luta inacreditável, detentores de uma determinação comovente e de uma espiritualidade poderosa e contagiante. Junto a eles e com eles pactuamos o clamor pela justiça e a busca incondicional por nossos direitos. Incansavelmente encontraremos a dignidade para nossos povos através da demarcação de nossos territórios.
Estivemos em Ivy Ajere, onde no ano passado, por mais de 40 dias, um acampamento miliciano imprimiu terror contra parentes desarmados. Diante da completa omissão e até mesmo da conivência do Estado e do Governo, famílias foram massacradas e alvejadas em cenas de guerra e barbárie.
Sentimos e partilhamos a dor do povo Kaiowa e Guarani, que espera pela demarcação desta Terra desde 2011. Todos os parentes que aqui estiveram, de todos os Povos, tem histórias semelhantes. Lembramos dos massacres, das lideranças assassinadas, dos ataques que sofremos cotidianamente. Assim como no Mato Grosso do Sul, a violência avança contra nossos povos e a natureza em todas as regiões do Brasil através da monocultura, madeireiros, mineradoras, imobiliára, empresas e dos megaprojetos.
A raiz de toda essa violência segue sendo o avanço do modelo econômico Capitalista e Colonial e diante disso a omissão do Estado Brasileiro em garantir a demarcação de nossas Terras. Nos Governos anteriores e no atual Governo os direitos indígenas seguem sendo negociados e esquecidos, a grande maioria de nossos territórios ainda aguarda publicação, declaração e(ou) homologação.
Enquanto isso a soja e o milho avançam e as crianças e mulheres estão sendo contaminadas pelo agrotóxico e o leite materno está envenenado. O veneno das fazendas está contaminando as plantações que alimentam nosso povo.
Entendemos que o Ministério do Povos Indígenas e a Funai precisam se retirar da mesa de negociação que ameaça nossa existência.
Na contramão da garantia de nosso direito Constitucional o Estado segue assediando nossos povos através da mesa de conciliação/negociação do Marco Temporal e de propostas de compra de terra inclusive contrariando as direções apontadas pelos Ministros do STF, quando do julgamento do Recurso Extraordinário 1.017.365.
Para este Território Tradicional no qual estamos pisando – Panambi Lagoa Rica – sabemos que o Governo pretende apresentar propostas de compra de terra tais quais praticou contra o território Guarani e Kaiowá, onde aproveitando de uma situação sensível do povo Kaiowa, procedeu de maneira imoral e ilegal, indenizando indiscriminadamente assassinos dos povos Kaiowa e Guarani sem nenhuma margem constitucional para isso.
Sabemos que da mesma maneira, o Governo tem assediado outros povos no Mato Grosso do Sul, como o povo Terena, buscando junto aos territórios de Buriti e Taunay Ipegue, abrir precedentes para ferir nosso direito constitucional.
É vergonhoso assistir o Congresso Nacional atropelando decisões do próprio STF e ameaçando nossos povos através de uma lei inconstitucional que revive o Marco Temporal bem como preparar a PEC 48 como instrumento de morte para nossos direitos constitucionais mesmo cientes de que são cláusulas pétreas da CF88. Bem como, nos envergonha que os outros dois poderes (executivo e judiciário) utilizem deste instrumento de morte, alinhando-se as bancadas inimigas dos povos, para amedrontar e chantagear nossos povos forçando-os a aceitar propostas que em si já ferem nossa tradicionalidade – essência do reconhecimento de nosso direito ancestral e originário.
É igualmente absurda e constrangedora a insistência do Governo na pratica ilusionista e golpista de questionar o atual método de demarcação administrativa via decreto 1775, escondendo o fato de que foram os próprios governos, negligenciando sua atribuição e responsabilidade de implementação do decreto que paralisaram e inviabilizaram as demarcações – atribuição está exclusiva do Executivo.
Não permitiremos que estas estratégias de agressão ao nosso direito e à nossa tradicionalidade sejam levadas a cabo contra o território de Panambi Lagoa Rica nem contra nenhum território de nossos povos e parentes. Direitos negociados não são mais direitos. São concessões junto aos ladrões de nossas Terras e aos nossos agressores bem como a supressão de garantias fundamentais para nós, povos indígenas. O Direito indígena é premissa sagrada conquistada com o derramamento de sangue de nossas lideranças e nossos ancestrais, garantidos pela Constituição Federal de 1988 e guiados e protegidos pelos nossos encantados.
Ao mesmo tempo que impediremos retrocessos e armadilhas que tentem enganar nossos povos em nossas bases, anunciamos que marcharemos todos juntos a Brasília, denunciando abusos e violações, exigindo que nossos direitos sejam respeitados e que os três poderes da republica honrem com suas obrigações constitucionais.
A violência que acontece com os parentes Guarani e Kaiowá acontece também com outros povos que estão na linha de frente ameaçados de morte e sem o território demarcado.
Por fim, declaramos que enquanto nosso direito for negado pela institucionalidade, iremos encontra-lo na pratica, na marcha e na luta. Retomaremos nossos territórios, um a um, povo a povo, porque eles são fundamentais para nossa existência e já não aguentamos mais viver apartados deles. Não permitiremos mais que nossos anciões deixem o mundo sem poder viver e sonhar em nossas terras, junto a nossos encantados. Não esperaremos mais, agora ou vai ou racha.
Precisamos permanecer vivos, mas vivos em nossos territórios demarcados e livres de ameaças ou de negociação sobre nossos direitos.
Exigimos enquanto movimento de unidade entre nossos povos que:
– Sejam retomados e finalizados os procedimentos administrativos de demarcação. E exigimos que a FUNAI crie imediatamente o Grupo de Trabalho (GT) e vá até os territórios realizar os estudos de identificação e delimitação.
– Seja declarada a inconstitucionalidade da lei 14.701.
– Seja encerrada imediatamente as mesas de conciliação/negociação do Marco Temporal.
– O STF julgue urgentemente os embargos do RE 1.017.365.
– Exigimos que os fazendeiros sejam punidos pelos crimes cometidos e imediatamente retirados dos territórios indígenas.
– Exigimos que a Sesai venha urgentemente atender em nas nossas retomadas.
DOCUMENTO DA ASSEMBLEIA DOS POVOS INDÍGENAS DE TOCANTINS Nós caciques e lideranças representantes dos povos indígenas do estado do Tocanti...